Bio: Muito do que sou é por ter herdado sacrifícios.
Por volta dos meus cinco anos, ainda sem ter consciência das atitudes tanto minhas como alheias presenciei simples atos que marcariam meu modo de observar o mundo pra sempre. Minha avó materna, Maria Gertrudes de quem surrupiei o sobrenome tomava conta de mim mais quatro irmãos para que meus pais pudessem trabalhar, pois a situação financeira era complicada para o jovem casal de operários. Lembro-me como se fosse hoje, apesar de ter apenas cinco anos. Morávamos na zona leste, periferia de São Paulo, final dos anos setenta. Segurando-me pela mão, minha avó levou-me a um lixão numa das industrias Francisco Matarazzo que manufaturava vários produtos. Ainda vem-me a imagem com muita clareza, ela removendo entre detritos as sobras de panos que guardava numa sacola de feira. Já em casa, improvisava um fogão a lenha com tijolos em seu quintal, em uma lata de tinta vazia, destas de dezoito litros colocava os restos de panos para ferver, enxaguava-os e voltava ao fogo com água, mas desta vez colocava corante azul e em outros vermelhos. Depois de secos os retalhos eram cortados em quadrados. E sentava na sua velha maquina de costura, onde era transformado em camisas e bermudas o tecido mais fino de espessura, com o grosso fazia colcha de retalhos que nos aquecia no inverno.