Por: Laércio Carvalho
###Olhei para um galho e, fixado
embaixo do mesmo, notei um casulo dourado,
salpicado por um pó muito brilhante de pedras
preciosas.Uma crisálida tentava se livrar do mesmo.
Ela tinha um rosto e falava comigo, mas eu não
podia ver seu rosto com nitidez, porque uma nuvem rarefeita de fumaça ofuscava a área em torno do casulo.
Ela tentava se desvencilhar de um líquido pegajoso
que a impedia de uma total mobilidade. O processo
me parecia ser, de certa forma, muito doloroso.
Curiosamente comecei a sentir sensações estranhas,
como se fosse eu ali; amarrado e tentando me mover
com muita dificuldade para me livrar daquele
incômodo da viscosidade. Só então liguei os fatos e
entendi que tudo aquilo era uma espécie de visão da
própria morte.
Aos poucos fui novamente recuperando minha
mobilidade. Eu podia sentir a suave brisa no meu
rosto durante o meu primeiro voo. Eu podia,
estranhamente, enxergar através de olhos que não
eram os meus. Eu via lá embaixo os lindos pés de ipês
floridos, as águas calmas dos pequenos riachos
serpenteando através da campina. Pousamos sobre
um rochedo sobre o qual descia uma grande cascata
de água cristalina. Logo ao lado avistei dezenas de
minúsculas piscinas naturais sobre o colo das
imensas folhas de taioba. Os menores, de tão
cristalinos, podiam ser confundidos, à distância, com
lindos diamantes azuis em forma triangular. Eu senti
o gosto da límpida e gelada água como se fosse
aquela a primeira vez. Eu senti o aroma das pequenas
flores de uma caneleira e me senti atraído pelo cheiro
delicioso do mel colhido e transportado no vai e vem
das abelhas silvestres. No alto as nuvens brancas se
dispunham em forma de leves plumas de algodão
soltas ao vento em contraste com o céu azul. Que
lindo dia para o primeiro voo de uma borboleta! Mas,
o dia vai chegando ao fim e uma tempestade de verão
se aproxima. As asas não eram minhas, mas eu podia
sentir a força do vento sobre elas. O desconforto não
era meu, mas eu podia sentir a dor ao ter as asas
arrancadas na violência de um furacão. Os olhos não
eram meus, mas a escuridão se fez.
Perdido nas profundezas de um abismo sem fim,
eu não podia prever o desfecho de uma estrutura tão
frágil lançada com tamanha violência à própria sorte.
Alguns segundos de um lapso na memória e os
pensamentos começaram a clarear novamente. Não
precisava mais de asas, porque, muito além da
velocidade da luz, os viajores do Universo alcançam a
velocidade do pensamento.
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AO POVO DE MARIANA
Que do vale de lágrimas ressurja um novo Rio Doce; caudaloso, límpido, repleto de vida, esperança e alegria. Que os peixes se reproduzam em abundância e as crianças voltem a sorrir. Mas, que, sobretudo, seja feita justiça; com os responsáveis sendo punidos, rigorosamente, por seus crimes.
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Agradeço a Deus pela concretização de mais esse sonho. Agradeço também aos amigos que, de alguma maneira, contribuíram para que ele se tornasse realidade.
Laércio Carvalho, dezembro, 2.015.
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