Por: Carlos Alves
O NEGOCIADOR DE ALMAS.
Pedro, sertanejo, homem do semi-árido, incon-formado com a miséria que o assola, bem como à sua família, negocia sua alma com o demo. Recusado, im-possibilitado de fazê-lo devido às artimanhas do tinho-so, negocia a dos próprios filhos. O faz certo de que sua esperteza, a fé e o poderio religioso da santa espo-sa, sustarão o ignóbil acordo; mas não sem antes que de alguma forma o acordado o favoreça.
Entretanto, salta-lhe às vistas a ruína em que está mergulhando os amados filhos. Após inúmeras e infru-tíferas tentativas pra fazer valer o seu direito, se dá conta da besteira que fizera. Desesperado, sem alterna-tivas diante das esquivas do animal; mata-se para con-frontá-lo no próprio território. Contudo, não pode fugir ao caminho traçado para todos os mortos; a quarentena, o período de permanência no cemitério – ou purgatório – junto à pútrida carne, na companhia de inúmeras e fantásticas almas.
Uma vez livre, no campo do inimigo – ou dos amigos – percebe sua pequenez para tão vultosa e deci-siva batalha. Só a empreende sob a assistência dos po-derosos anjos, da santa esposa e o seu batalhão de fé, das almas irmãs do campo-santo; cuja causa também reclama o sangue demoníaco; e até das fantásticas e mitológicas forças da natureza.
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