Contos Regionais, Crônicas e Poemas
CRIANÇA ! CRIANÇA !
Crianças que brincam à beira da estrada,
Correndo perigo, perdidas no tempo;
Não podem dizer o que passa nas mentes;
Não pensam, não agem e não sabem nada.
Crianças humildes morando nas locas
Que um dia encontraram por sorte ou azar;
São tão desnutridas; pinguinhos de gente;
Gastando suas vidas; acabando - as no ar.
Crianças sofridas no sol, no relento;
Às vistas de um povo que pena de dor.
Cansadas da luta, da fome e da peste;
Cansadas da vida; sedentas de amor.
Crianças envoltas em triste roupagem;
Enquanto outras poucas em ricos ornatos;
Crianças sem aula, sem teto, sem sorte;
No meio do Rio; distante da margem.
Crianças contentes por estarem vivas;
Por estarem prontas para o dia seguinte;
Por serem o espelho da gente que somos;
Por serem a escória da Constituinte.
Criança, criança ; coitada, coitada ;
Vê todos, vê tudo, mas não sabe nada.
UMA NOITE; OUTRAS NOITES
Longa noite de vinte anos
dormiu nossa sociedade.
Todos viveram o pesadelo.
Vivem agora a incerteza
de não construírem direito
Um passado arrumadinho .
Por estarem amordaçados...
Cordas de palavras pesadas
Diferem de laços de amor ardente.
Plantas daninhas, carnívoras,
Dominaram nossos jardins, antes floridos.
Mudas de economia estranha;
Fragmentos de raízes mortais.
Cultivadas nos solos e nas mentes
De nossos frágeis brasileiros.
Quão bom despertar do pesadelo!
Quão bom despertar assim unidos!
Quão bom combater, depois de fortes,
Fracos, frágeis; porém jamais vencidos!
Temos outros pesadelos pela frente!
Acordemos com os baques do destino!
Que esse nosso Brasil ainda é menino!
FIRME NEGRO !
Vem negro! Levanta a cabeça!
Vem ! Que o espaço ainda é teu!
Vem ! Que o que tinhas e te foi roubado
Volta pra ti, porque Deus te deu.
Vem pretinho ! O dia está lindo!
Vem que eu quero te abraçar forte.
Seja na longa jornada da vida;
Seja na dor, na tristeza e na morte!
Vem ! Que o teu dia de luta é certo.
Vem ! Que o teu lema ainda é sofrer!
Vem ! Pois você já faz parte disso!
Vem pra ficar, lutar e vencer.
Lembras que um dia de mãos atadas
Fostes buscado e, na escuridão
Lá colocado; no sofrimento...
Isso dói muito no coração.
Basta esse tempo de más lembranças;
Basta de fardos e grilhões nas mãos.
Olha pra obra ! Olha pra os feitos!
Vem conquistar estes teus irmãos.
Negro não mata. Negro não morre.
Negro não perde. Negro não cansa.
Negro que é negro, com sangue e raça
Vence na praça; vence na dança.
Passam-se os anos; pretos e brancos,
Vão se acabando na hipocrisia.
Os negros vão. Os negros ficam.
Mesmo sofrendo, dia após dia.
Todos os negros do mundo afora
Todos unidos, como no centenário.
Fazendo um coro de vozes unidas;
Fazendo-se ouvir como um campanário;
A voz do negro soando forte.
Olho no olho ! Cabeça erguida!
NEGRITUDE ASSUMIDA
Ser negro é ser forte
Ter fibra, ter fé;
Ter raça, tutano
E ser o que é.
Ser negro é ter fama
De bom ou ruim;
Ser negro é ter nome
No ouro ou na lama.
Nos tempos passados
Nos troncos, nas roças;
Negro não passava de um mero animal.
Mas, tudo que é digno,
Que é bom; que é de fibra;
Transforma; desliga.
Desprende do mal.
E negro que é negro
Já tem ideal.
Ser negro é uma marca;
Não mancha de preto.
É marca que fica
Em todos os tempos,
Em todas as eras
Em todas as eras;
Em todos os povos
Com unhas e dentes.
Ser negro é ser livre
Mesmo entre correntes.
NEGRO SABE QUE É NEGRO
Batendo com força
Nos lombos dos negros
Ardendo; gritando.
O tempo passava,
O tempo minguava;
A sorte não vinha
Com a Abolição.
Passou-se a corrente;
Passou-se o vergão.
Passou-se a vergonha,
O medo; a aflição.
Só não passa o crime
Racista e doente
De um povo demente
Que cospe pra cima.
Cem anos; quinhentos;
Não faz diferença.
Tem gente que sabe
Que dói mas não “sopra”.
O negro é tudo
que o branco possui.
Mas, triste do negro
Que sente seu dono
Num simples mortal.
Ser negro é ser gente;
Sofrendo ou sorrindo.
.................................................
Só negro é que sente.
NÊGO SIM; NEGRO NÃO !
Nego é um chamamento
Negro é um palavrão.
Nego é o jeito carinhoso
De chamar o nosso irmão.
Negritude é pesadelo
Que assombra; que humilha
Nosso irmãozinho de cor.
De uns tempo para cá
A escravidão tem sido
Um pesadelo infernal.
Pra os negros vindo da África
E pra nossa geração
Tem sido só falsidade.
Até nossos romancistas
Falaram da crueldade.
A poesia do romântico
Pelo lado social
Trouxe também uma nota
Da verdade crucial.
Hoje, em pleno Centenário
Da pseudo abolição;
Em que as forças da política
Contrariam as culturais;
Somos triste resultado
De um racismo desigual
Eu sou dessa opinião :
Nego sim ! Negro não !
Livros com menos de 70 páginas são grampeados; livros com 70 ou mais páginas tem lombada quadrada; livros com 80 ou mais páginas tem texto na lombada.
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