Por: JÂNIO VARELA
UM POETA DO COTIDIANO
Da Academia Norte-riograndense de Letras. Presidente do Conselho Estadual de Cultura
Janio Varela Sobral já não é mais uma revelação da poesia potiguar, pois este não é seu primeiro livro. Há mais de 20 anos publicou seu primeiro livro, sempre mantendo um fino humor e um estilo elegante, mas ao mesmo tempo irreverente e mordaz.
Teve um grande companheiro nas letras. O poeta Afranio Lemos, um dos mais lúcidos escritores da literatura do Estado foi seu associado em algumas aventuras literárias. Junto publicaram alguns livros de poemas, aliando o trabalho artesanal das letras com a inspiração poética do cotidiano.
A qualidade do seu texto poético nos revela um poeta pouco usual. Trabalhar com as palavras, reduzir o texto ao mínimo indispensável à compreensão, sem contudo ferir a inventividade, a coerência e a beleza das palavras trem sido uma marca de tudo que produz, como nesse fragmento de “Distancia”: Esta difícil distancia / que sufoca e aflige / serve de parâmetro agora / para tomada de decisões futuras.
Aliás, Janio Sobral tem vivido com a arte há mais tempo do que com a poesia. Trabalhou no atelier de Manxa auxiliando no entalhe dos grandes painéis que enfeitavam os salões do BANDERN e que ainda enfeitam agencias do Banco do Brasil, Caixa e repartições públicas. O lavor com o entalhe deve ter esculpido na sua alma a veia poética que faz-se evidente nesse POESIAS DO COTIDIANO.
O poeta é sempre um visionário. Tem uma visão do mundo completamente diferente dos outros mortais. Ele não vê somente com os olhos, imprimindo na retina o que todos vêem, mas com a alma que vê além da ótica, que interpreta o que é visto e que busca nos ângulos e imagens mais simples, uma mensagem que é adequada aos sonhos e visões diferenciadas.
“Tudo começa com a vida / e termina com ela” exclama o poeta, mesmo sabendo que a poesia não termina com a vida pois a ela é destinado o eterno.
O cotidiano, certamente é uma coisa comum para qualquer mortal É o simples, o corriqueiro, o comum. Para o poeta, o cotidiano é um deslumbramento mágico que ele consegue desvendar nas menores coisas da vivencia, nas mais simples coisas do dia a dia que parecem apenas uma simples continuidade da vidinha chata e comum. O cotidiano do poeta é um permanente deslumbrar de coisas, uma busca de identificar os sinais do tempo como o mago vidente. Uma folha que dobra-se ante o peso da gota de orvalho, a sombra de uma árvore que desenha no chão o ponteiro do relógio das horas ou a imagem da lua refletida no espelho das águas.
Esse o cotidiano do poeta que Janio nos traz nas páginas do seu livro, como um presente e uma lição de que nas pequenas coisas é que são revelados os maiores encantamentos.
IAPERI ARAUJO
Livros com menos de 70 páginas são grampeados; livros com 70 ou mais páginas tem lombada quadrada; livros com 80 ou mais páginas tem texto na lombada.
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