Naquele dia José acordara mais cedo, não tomara seu leite, nem comera seu pão e já estava diante dos portões da empresa onde trabalhava. Respiração ofegante, olheiras, o peso da noite mal dormida. Trinta e cinco anos, dois filhos, uma noite no Municipal e fé no país. Homem de pulsos firmes e bolsos vazios. Na juventude sonhava em ser o Salvador da República, mas a democrática desigualdade social sufocara seu sonho. Precisou perder o emprego, a mulher, os seus filhos, para que todo aquele sonho patriótico ardesse novamente. Seria aquele o dia decisivo. Sorriu, um sorriso amargurado, estrangulado pela tristeza, pelas lembranças. Os altos portões da fábrica, saltou-os. Ouviu latidos, antecipou-se aos cães e serviu-lhes um banquete de carnes, depois, ganhou um corredor lateral, passos rápidos, sabia que o vigia estaria no lado oposto do terreno e não o veria. Diante do imenso galpão, parou, observou, buscou a escada, preparada no dia anterior. Em poucos minutos andava sobre o frio telhado de zinco.
Número de páginas | 88 |
Edição | 1 (2010) |
Formato | A5 (148x210) |
Acabamento | Brochura c/ orelha |
Coloração | Preto e branco |
Tipo de papel | Offset 75g |
Idioma | Português |
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