Blábláblá
Por: Rui Werneck de Capistrano
Em Blábláblá – Diálogos Aristoplatônicos..., Werneck consegue produzir seu melhor trabalho poético (conheço toda a obra dele e esta mais recente é fantástica). Vi nessas novas poesias um novo T. S. Elliot. O pro-blema é que a própria obra contradiz e derruba o autor, pois tenta nos im-pingir um conteúdo – o de que a vida é assim mesmo, irracional e violenta, não há o que fazer –, fazendo isto passar por verdade absoluta que precisa-mos engolir cru e sem tempero, simplesmente porque o deseja Werneck. Ora, temos aqui um Werneck refletindo profundamente sobre a vida e a realidade, ao dizer que é bobagem e cair no blábláblá refletir sobre a vida e a realidade?
(...) Daí ser uma bobagem, para esse não-homem, refletir sobre a vida de hoje e de toda a sua mesmice, uma vez que ela é, diz ele, irracional e sem sentido, cercada de mistérios insolúveis e, portanto, imutável e irremediável. Esta é a razão pela qual o não-homem não pensa nem reflete mais. Aquele que tenta mudar o mundo – estará chovendo no molhado e fatalmente cairá no blábláblá, como afirma categoricamente meu amigo de infância de Curitiba, Rui Werneck de Capistrano, um bom exemplo de irracionalista (aquele que não crê no potencial da razão e para quem nunca chegaremos às verdades). Para Werneck, o homem que tenta conhecer (isto é, fazer ciência para entender) o mundo, acaba se transformando numa gralha que, de tanto descobrir o óbvio (as mesmices do cotidiano) e dizer abobrinhas, fatalmente cairá no blábláblá e acabará em frangalhos.
(Tom Capri, in Miséria da Ciência, São Paulo – Brasil, 207)
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