UMA REFLEXÃO SOBRE PERDAS

Por: ANTÔNIO JOSÉ MELO MARQUES

Considero esta obra ‘’Lições de Olhos Verdes’’, de cunho didático, vestida de romance biográfico, onde ciência, filosofia, psicologia e mística despontam.

Ela é fruto de dois anos de observações a atitudes de Vó Luíza enquanto definhava a cada dia, parecia fortalecer-se circunstancialmente para depois definhar mais e mais. Fruto também de pesquisa em 10 ou 12 livros de psicologia da 3ª idade e de experiências a partir de atendimentos clínicos em consultório.

À medida que Vó Luíza fragilizava-se diante de olhares preocupados e exigentes da família, vários fenômenos psico-afetivos eclodem.

Com a queda do mito forte, faz-se evidente a insegurança dos filhos, netos, bisnetos, deixa claro o despreparo de todos ante a senilidade inexorável.

- Ontem ela tentou cortar a carne com o lado da faca!...

Este livro não pretende ser uma denúncia de maltrato ao senil, embora muitos trechos da narrativa o pareça...

- Não, assim não é possível, da próxima vez vai pro asilo!...

...quando a impaciência dos filhos gera a aspereza de palavras e gestos frente ao ser que já não se comunica conforme ritmos jovens e velocidade do computador.

Também não pretende ser uma obra que suscita tristeza e melancolia nos leitores, embora seja real o suficiente para revelar culpas e mágoas que sempre guardamos em nossos corações por atitudes de opressão ou excesso em várias situações vividas junto a entes importantes. Prevendo tal desconforto dos leitores, ensaiei uma linguagem de fácil entendimento, através das quais verdades cruas vão sendo ditas com leveza e força...

- Não, não quero ser um móvel velho...Quero ser uma velha móvel!...

...Inclusive porque, no que se refere ao humano, a tragédia e o cômico sempre foram irmãos inseparáveis. Entendo que o ser humano quer acertar, mesmo quando comete equívoco. O auto-conhecimento, o amor e a força iluminando a consciência, são os antídotos para aquilo que chamamos ‘’erros’’ gerados de ‘’culpas’’, meses de auto-punição, desânimo e futuros quadros depressivos.

Também não é um livro que elege tal e tal religião, embora de modo ousado adentre no intricado labirinto da mente humana, encontrando rastros de vida além da mente.

- Ela olhou e viu um homem atravessando a parede de um cômodo ao outro...

...Fenômenos que os toma como normais para quem cruza a barreira que supera as dimensões...