A lenda da ilha perdida

Por: Leandro Dupré Cardoso

Nove cidades. Inúmeras reviravoltas. E um só sonho: a unificação de todos os povos da Ilha Inclinada para novamente dar vida ao reino perdido de Samádia, o verdadeiro paraíso na Terra. Mas a tarefa que não pôde ser resolvida durante milênios também não será facilmente cumprida agora.

Isoladas em uma ilha onde nenhum estrangeiro pode chegar e nenhum de seus habitantes pode sair, as cidades do lugar vivem há tanto tempo sem contato entre si que já não possuem mais noção nem da própria existência de tantos aglomerados urbanos ao seu redor. Esse é o propulsor da iniciativa. E talvez a sua própria derrocada.

A energia vem de baixo: Sáltano, a cidade mais próxima do nível do mar nessa ilha de formato espiral. Sendo sempre o local mais subestimado por ser um esgoto a céu aberto na forma de um asqueroso depósito dos dejetos de todas as outras cidades, Sáltano sempre vislumbrou uma vida melhor para seus habitantes. Foi dessa maneira que a cidade baixa decidiu ascender pela ilha. E conquistar seus povos irmãos para se tornar a cidade soberana sobre o reino de Samádia.

Assim, o harmônico equilíbrio do tão sonhado reino estará constantemente em perigo diante do desejo de poder e da sede de vingança de Sáltano, os emergentes conflitos com as cidades restantes, a interferência dúbia de seres místicos e a espantosa exatidão dos versos da antiga profecia a respeito do destino da ilha.

O ressurgimento de Samádia estará nas mãos de Sáltano: ser o herói ou o vilão, o sublime redentor ou o pérfido traidor.

Dessa maneira, Sáltano poderá perdoar as cidades que tanto lhe afligiram durante toda a sua existência e dar origem a um só pacífico reinado? Ou a sua impulsão para o crescimento estará irreversivelmente contaminada pela degeneração a que sempre foi submetida a ponto de ocasionar uma desenfreada escalada à própria ruína e a de toda a ilha?