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DESABAFOS DO COTIDIANO E PROSA E VERSO

Por: Antônio Girão

É manhã de terça-feira. São seis horas e dez minutos. Estou no coração da Praça do Ferreira. Imediatamente o céu tornou-se completamente plúmbeo e começou a chover caudalosamente. Fiquei a espreitar a plangente vida das crianças e dos excluídos que fazem das marquises das lojas seus infortunados asilos. Apesar do intenso frio, eles dormem sem cobertor, sem afeto, sem o afago de uma mão amiga, sem os braços aconchegantes de uma mãe ou de uma adorável esposa. Nas entranhas do meu cérebro, carrego as imagens destas escabrosas cenas que sempre me darão nojo e forças para reafirmar que, enquanto vivo for e presenciar estas lamentáveis cenas, continuo reforçando a tese de que ainda não estou no País de boas ações e legítimos direitos.

Num País riquíssimo em solo, com tanta terra, não é tolerável que se adormeça em calçadas, em sarjetas, em bancos de praças ou em marquises de lojas. Isto se chama desgoverno. Até as árvores estão risonhas e felizes, já que suas copas podem absorver esta enxurrada que desce de céu abaixo. Nem estas crianças nem tampouco estes famintos têm culpa de fazerem parte deste sepulcral devir. Tento me proteger, porque a água sobe repentinamente a calçada. Os imundos bueiros são incapazes de suportar a forte correnteza da água. Subo no pilar de uma porta, para não molhar meus pés, porém tudo isso foi em vão. Fui obrigado a ser expulso pela forte correnteza. Saí pulando como canguru; nada adiantou; só pulava dentro de poças d'água, e estes miseráveis indigentes que estavam embaixo das marquises se acordaram assombrados com a invasão da água. Pergunto a mim mesmo. Meu Deus, por que os desígnios da vida são tão cruéis? Uns têm seus solenes leitos, outros habitam nos pomposos edifícios de cobertura. Em suas sofisticadas piscinas, eles derramam uísque nos bumbuns das donzelas. Outros não têm absolutamente nada: são apenas os vermes da burguesia. Por que tantos deslizes financeiros? Será que somente os excluídos têm o leviano dever de padecer as injustiças dos milionários? Será que esta podre oligarquia poderia pelo menos doar-lhes uma humana dormida, para que eles tivessem ao menos um fio de dignidade? Quem sabe pelo menos um quase humano abrigo? Quantos cães possuem cobertores em suas luxuosas casinhas para dormirem tranquilos? Quantos leões dormem nos bordéis e nos motéis ao lado de suas cutruvias. Estas cenas são completamente despidas de humanidade para uma praça que guarda a memória de um laurífero intelectual. Quando, de repente, a chuva começou a cair em rabanada, bateu tão forte, que o picadeiro da praça desabou sobre as cabeças de todos que estavam em baixo. Ouvi o forte estrondo e os gritos; o corre-corre foi desesperador. Vi que apenas um saiu mancando, porém a tragédia foi abafada pela própria lona. Todos estão salvos. O susto foi bem maior que o próprio alarido.

Selos de reconhecimento

Impresso
R$ 42,96

Ebook (PDF)
R$ 23,62

Tema: Crítica Literária, Educação, Literatura Nacional Palavras-chave: contos, crÔnicas, e, poesias

Características

Número de páginas: 154
Edição: 2(2017)
Formato: A5 148x210
ISBN: 978-85-7564-398-3
Coloração: Preto e branco
Acabamento: Brochura c/ orelha
Tipo de papel: Offset 75g

Livros com menos de 70 páginas são grampeados; livros com 70 ou mais páginas tem lombada quadrada; livros com 80 ou mais páginas tem texto na lombada.




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