Por: Emília Pardo Bazán

A presente coletânea, nasceu da necessidade de divulgar, no Brasil, a escritora galega de expressão castelhana Emília Pardo Bazán. Embora pouco conhecida entre nós, a escritora corunhesa é uma glória da literatura não apenas de sua pátria, senão do mundo inteiro. Conquanto introdutora do natu-ralismo na Espanha, Emília Pardo Bazán deixou numerosas narrativas de índole fantástica — es-tas tão apreciadas em sua mágica Galiza natal —, algumas das quais reunidas no presente volume.

Em A Ressuscitada, conto magistral que dá nome à presente coletânea, a senhora Doroteia de Guevara morre e é sepultada. Desperta, todavia, numa câmara ardente, mergulhada nas entra-nhas de uma igreja secular, antro fúnebre de sua respeitável e avoenga família. Procura, então, arredar-se pressurosamente do ataúde e correr ao abraço caloroso de marido e filhos que, traspas-sados pela tristeza, deveriam regozijar-se de seu miraculoso retorno d’além-túmulo. Caloroso abraço? É com graciosa ironia que a autora abor-da o tema do sepultamento prematuro, notabili-zado por Edgar Allan Pöe.

Outros onze contos, fantásticos ou sombrios, mas sempre impactantes, se sucedem.

Aqui, um ricaço velho e decrépito, adepto do ocultismo, casa-se com uma garota de 15 anos movido por funestas intenções (O Vampiro); ali, um oleiro faminto engendra uma vingança contra insensíveis senhorios, garantindo, com cruel astúcia, o futuro de sua prole oprimida (A Troca); acolá, insolitamente, um coração tombado na calçada encontra abrigo no peito de uma ingênua criatura (O Coração Perdido); mais além, em plena Revolução Francesa, um jovem idealista, vindo do interior, é acolhido calorosamente pela família de um ilustre artesão revolucionário... Mas o horror pungente não custa a chegar (Idílio).

O terror sobrenatural (O Conjuro), a loucura (Ar, O Fantasma, O Espectro), a zona cinzenta entre um e outra (Dirimente), o horror (A Enclausurada), a narrativa cruel (Meu Suicídio)... toda esta variedade de temas e estilos convida o público afeito à litertura fantástica a uma leitura emocionante e aprazível, brotada da pena de uma das mais fecundas mentes criativas de seu tempo, e cuja estatura ombreia-se com a de brilhantes es-critores de sua época, a exemplo de Villiers de L'Isle-Adam, Rubén Darío, Guy de Maupas-sant, Oscar Wilde, Robert Louis Stevenson, Ho-racio Quiroga, Marcel Shwob e Leopoldo Lugones.