Uma pesquisa sobre relações raciais na África

Por: Bronislaw Malinowski

O leitor tem agora, à sua disposição em português, "As dinâmicas da mudança cultural", do antropólogo polonês Bronislaw Malinowski, um dos mais influentes autores de sua área, e referência nos estudos da antropologia social. Revolucionário em seus métodos, e especialmente influente com sua magnífica obra "Argonautas do Pacífico Ocidental", Malinowski aparece aqui em uma obra menos conhecida, sem dúvida menos discutida, mas absolutamente impactante - pelas piores razões, diga-se de passagem.

A "mudança cultural" do título se refere, especificamente, ao processo de aculturação promovido pelos europeus sobre os povos africanos. Porém, Malinowski não busca uma análise objetiva desse contato cultural. O objetivo explícito de sua argumentação é construir - por meio de uma "Antropologia aplicada", como ele denomina - uma espécie de "manual do colonizador", indicando as formas pelas quais os europeus deveriam agir para que seus objetivos na exploração dos territórios africanos tivesse sucesso.

Na primeira parte de "As dinâmicas da mudança cultural", Malinowski discute aspectos teóricos de sua abordagem. Aqui, há uma descrição bastante didática, não presente em outras de suas obras, do que seria a abordagem funcionalista em antropologia: seus fundamentos, suas características, e o que seriam suas vantagens analíticas.

A segunda parte da obra trata de questões mais práticas do processo de colonização europeu na África em alguns de seus aspectos mais sensíveis: a questão da alimentação das populações nativas, a bruxaria, a posse de terras e especialmente a administração indireta dos povos africanos que estavam sendo submetidos ao processo colonial europeu.

Em todos os momentos Malinowski deixa evidente seu desgosto em relação às culturas indígenas africanas, bem como seu encantamento pela civilização europeia que ele considera indiscuvelmente superior.

Quando seus diários de pesquisa nas ilhas Trobriand foram publicados ("Um diário no sentido estrito do termo", publicado no Brasil em 1997), seus desabafos racistas contra a população "selvagem" que ele estudava foram descartados, por não poucos intelectuais, como meros desabafos privados, sem relação com suas verdadeiras ideias sobre a diversidade das culturas humanas. Em "As dinâmicas da mudança cultural", porém, Malinowski fala a todos, tornando não apenas pública e reforçando sua aversão às comunidades tradicionais africanas, como procurando instrumentalizar, de maneira obscena, a Antropologia em benefício de uma processo colonial de sucesso.

A publicação desta obra em português certamente não diminuirá em nada a grandeza de uma obra como "Argonautas do Pacífico Ocidental". Mas certamente evidencia que, sem quaisquer informantes indígenas a guiá-lo na interpretação e descrição de realidades não-europeias, e deixado sozinho com suas próprias maquinações e preconceitos, Malinowski se revela um colonialista cínico.